Synopsis
O espírito da terra, primeiro drama da trilogia teatral Lulu, tem um prólogo tal qual um cenário onde os personagens são introduzidos por um "adestrador de animais" como se fossem criaturas de um circo itinerante. A própria Lulu é descrita como aquela que, além de possuir a "forma primordial da mulher", é "o verdadeiro animal, o animal selvagem e bonito".
O espírito da terra estabeleceu um novo padrão para a dramaturgia, influenciando a forma das produções da sua época e, posteriormente, do teatro expressionista. O uso inovador da linguagem, seus temas de eloquência sexual e sensacionalismo de circo e, sobretudo, seu foco no quadro burguês da Alemanha do final do século XIX trabalham juntos na peça para produzir um comentário complexo, às vezes ambivalente, sobre a estrutura social.
Tal como acontece com muitas das obras de Wedekind, a trama parece ser apenas de importância secundária para a interpretação da peça. Desde a sua primeira publicação até hoje, a maioria dos críticos se concentrou na protagonista complexa e misteriosa em suas interpretações de O espírito da terra. O título da peça diz respeito a Fausto, de Goethe, obra na qual o "espírito da terra" encarna as forças infinitamente produtivas da natureza. Assim, Lulu poderia representar os movimentos mais básicos da vida, que na peça de Wedekind claramente têm uma dimensão sexual. Ela parece não retratar uma pessoa real e, muito menos, a onipotente representante de impulsos sexuais cruéis, mas, sim, a tela em que os personagens circundantes projetam suas fantasias. Outra leitura proeminente da peça é a de Karl Kraus em que Lulu, que está à vontade com sua própria sexualidade, expõe a moralidade hipócrita da sociedade.