Tabacaria

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Synopsis

Lisboa, Janeiro de 1928. Álvaro de Campos, o engenheiro naval que queria ter gestos fora do corpo, está fechado em casa. Ao seu quarto chega o rumor abafado da vida lá fora, e ele vai da cadeira para a janela, da janela para a cadeira. Não sabe em que há-de pensar, mas pensa, fuma. "Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta numa parede sem porta/ E cantou a cantiga do infinito numa capoeira/ E ouviu a voz de Deus num poço tapado". Da tabacaria do outro lado da rua alguém lhe atira para cima com o real, e o engenheiro desperta, "enérgico, convencido, humano", e acena. O universo refaz-se, mas ele, que gosta de brincar entre versos e que nos havia de "provar que era sublime", já nos avisou: mais tarde escreverá o contrário.
Maria do Céu Guerra interpreta a Tabacaria, de Álvaro de Campos, um dos poemas mais célebres deste heterónimo de Fernando Pessoa, aquele cuja fala gesticulada e febril acompanhou o poeta até ao ano da sua morte.

Fernando Pessoa

A morte do pai, aos seis anos, e do irmão mais novo, aos sete, marcam o fim da infância feliz de Fernando António Nogueira Pessoa, nascido em Lisboa a 13 de Junho de 1888. Órfão de pai e filho único, troca correspondência com o seu primeiro heterónimo – Chevalier de Pas – e dedica à mãe um amor exclusivo. É para ela, fidalga açoriana, mulher culta e autora de versos ocasionais, que em 1895 escreve a primeira quadra. Mas o casamento, no mesmo ano, da mãe com o cônsul de Portugal em Durban, leva-os para África do Sul, onde nasceriam os seus cinco irmãos.
Melancólico e ressentido, o primogénito refugia-se na leitura e na escrita de poemas em inglês, que assina às vezes como Alexander Search. Em 1903 recebe o Prémio Rainha Vitoria pelo ensaio com que concorreu à Universidade do Cabo.Por essa altura, com 15 anos, Pessoa lia Dickens, Shakespeare, Byron, Shelley, Poe, Voltaire, Molière, Tolstoi, Aristóteles.
Aos 17 anos deixa a família e regressa a Lisboa. Ingressa no Curso Superior de Letras, do qual desiste em poucos meses, frustrado com a qualidade do ensino. Vive com uma tia, depois com uma avó que vem a morrer louca, e em diversas casas e quartos alugados. Com a herança da avó funda a "Empresa Íbis – Tipografia Editora – Oficinas a Vapor", mas o negócio não vinga. Místico, idealista e inadaptado, ganha a vida a fazer tradução para casas comerciais, um trabalho anónimo de salário modesto mas sem horário fixo, que lhe permite escrever e, na criação literária ser grande e ser muitos.Em 1912 estreia-se como ensaísta na revista Águia, dirigida por Teixeira de Pascoaes e órgão da Renascença Portuguesa. Simpatiza com este grupo de intelectuais nacionalistas e espiritualistas pela via do patriotismo (tema de Mensagem e das Odes ao Presidente-Rei Sidónio Pais e ao Quinto Império), mas logo se separa.Lança novos estilos e correntes literárias em que ensaia a moderna poesia portuguesa, juntamente com os amigos de tertúlia, e destacadamente Mário de Sá-Carneiro. Para ele prepara durante vários dias uma partida: inventar e apresentar-lhe um "poeta bucólico de espécie complicada".
No dia 8 de Março de 1914, quando já tinha desistido, acercou-se de uma cómoda e, tomando um papel, num êxtase, começou a escrever. Assim surgiu "O Guardador de Rebanhos" e Alberto Caeiro, logo seguido dos discípulos Ricardo Reis e Álvaro de Campos, poetas com biografias, estilos e tipos físicos distintos.
Escreve também poemas em nome próprio e passagens do Livro do Desassossego, do semi-heterónimo Bernardo Soares. Outras dezenas de personalidades literárias hão-de juntar-se à humanidade íntima de Pessoa, escrevendo através dele cerca de 27 mil textos.
Destes apenas foram publicados em vida do autor os poemas ingleses, a "Mensagem" e o folheto "O Interregno". Morreu a 30 de Novembro de 1935, com 47 anos, de uma crise hepática provocada por demasiado consumo de álcool.

Maria do Céu Guerra

Actriz há mais de quatro décadas, Maria do Céu Guerra é uma das mais importantes intérpretes da história do teatro português, com passagens marcantes pelo cinema e pela televisão.
Foi fundadora da Casa da Comédia e do Teatro Experimental de Cascais, onde interpretou, com direcção de Carlos Avilez, autores tão diferentes como António José da Silva, Garcia Lorca, Racine ou Schiller. Entre 1971 e 1973 experimenta a comédia e o Teatro de Revista, e em 1974 está na fundação do Teatro Adoque. Mas é no Grupo de Acção Teatral A Barraca, que fundou em 1975 e que dirige com Hélder Costa, que centra a sua actividade de actriz e encenadora, interpretando, entre muitas outras, peças de Gil Vicente, Augusto Boal, Dário Fo, Molière, Brecht, Fassbinder, Ionesco, Shakespeare ou Ettore Scola. Protagonista de um teatro interveniente e popular, tem sido também cidadã empenhada nas causas da liberdade, da justiça e da educação pela arte e pelo divertimento. É autora do ambicioso espectáculo Ser e Não Ser ou Estórias da História do Teatro, publicado em 2005 pela Círculo de Leitores.
Em 1992 recebeu o Prémio UNESCO para as Artes, com o espectáculo O Pranto de Maria Parda, tendo sido distinguida também pelas interpretações em Calamity Jane, Um Dia na Capital do Império e É menino ou Menina?.

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